Já não estava a dormir. Mas também ainda não me encontrava completamente acordado... Era como se eu tivesse consciência de tudo o que se passava à minha volta; no entanto, não me mexia nem interferia com nada. Sentia as minhas pernas frias: talvez devesse ter escolhido umas meias mais compridas. Sorri ao aperceber-me do facto de que
ele tinha um braço à volta da minha cintura.
Finalmente, depois de um bocado a apreciar a minha posição, decidi falar:
- Bom dia!...Há quanto tempo estás acordado?
- Há algum. Diga-me, menino Trancy, não tem fome?
Fiz uma careta ao ouvir a forma como ele tratava. Não importava quantas vezes eu lhe pedisse para me chamar Alois, ele insistia sempre em dirigir-se a mim daquela maneira tão informal. Fazia tudo parte da sua rigorosa etiqueta! Era irritante...lá por ele trabalhar para o meu pai, não queria dizer que tinha que me tratar assim... Ainda por cima, eu sou mais novo que ele... Oh! Quantas vezes eu agi como um pirralho mimado (que, sendo honesto, é a minha verdadeira forma de ser) e fiz de tudo...TUDO mesmo para tentar arrancar alguma emoção dele, mas nada. Sempre com a mesma cara apática e voz monótona.
- É Alois! E sim, tenho....que tal irmos comer juntos a algum lado? - aproximei a minha face da dele e dei o meu melhor sorriso. Ele não poderia recusar... nem que eu tivesse que usar chantagem ou qualquer outro meio “sujo”.
- Hum..não me parece muito boa ideia...Penso que o seu pai não iria gostar muito....
- Cala-te! Não metas o meu pai nisto! Eu ordeno-te que venh...
*Trrim...Triimmm*
Boa...agora vinha o estúpido do telemóvel interromper-me! Desesperadamente aninhei a minha cabeça no peito dele, escondendo a cara.
- Poderia levantar-se? Preciso de atender.
Como não respondi nem fiz menção de me levantar, Claude colocou o telemóvel em alta-voz e começou a falar. Lágrimas de frustração e irritação vieram-me aos olhos quando ouvi:
Sim, estarei aí o mais rápido que conseguir.
Num impulso de raiva, arranquei-lhe o telemóvel das mãos e gritei:
- Não, não vais!
Desliguei o aparelho e atirei-o para longe. Tornei a deitar-me com a cabeça no seu peito e, quando me acalmei, olhei para ele. Surpreendi-me a ver que Claude não estava zangado. Então, ele afastou-me gentilmente e levantou-se. Depois, virou-se para mim e disse:
- Vamos comer?